All about us #5





 Enquanto Draco acendia algumas velas existentes no local Hermione parou para observar o lugar incrível que a rodeava.

Estavam num lugar nunca antes visto pelos olhos da bruxa. Era uma espécie de sala magicalmente ampliada. O ângulo estranho em que algumas paredes pendia deixava claro que aquele lugar havia recebido muitos feitiços expansores. Não havia janelas e nenhuma saída aparente que não fosse o estreito corredor. A sala parecia conter mais livros que muitas bibliotecas Hermione já visitara. As paredes, que não estavam lotadas de livros, tinham fotos e esculturas equilibradas precariamente em prateleiras empoeiradas, dando um toque excêntrico ao lugar que era iluminado apenas por centenas de velas, a grande maioria flutuava alto perto do teto abobadado.

Exitiam várias poltronas e pequenos sofás espalhados pela sala. Mais parecia uma biblioteca particular gigante que uma sala.

–Que lugar é esse? -Indagou Hermione

–Um lugar que descobri ano passado. Meu palpite é que esta é uma espécie de biblioteca secreta que pertenceu a Salazar Slytherin. Não sei ao certo... tudo aqui é super velho.

A castanha assentiu maravilhada. Ela teria de ter três ou quatro vidas para ler todos aqueles livros.

–Está gostando? -Perguntou Draco acendendo as últimas velas com um aceno de varinha.

–É claro que sim, esse lugar é incrível... -Respondeu Hermione maravilhada. 

–Vá em frente, pode pegar qualquer um e ler. Até onde sei, ninguém conhece esse lugar além de mim.

A garota pareceu ter levado um tapa na cara tamanha fora a intensidade do senso de realidade que a tomou. Somente ele e agora ela. Porque diabos Draco Malfoy a mostraria um lugar tão... especial?

–Malfoy... O que você quer de mim? -Perguntou voltando sua atenção para o loiro.

O rapaz pareceu se zangar por um momento, mas depois apenas sorriu e sentou-se em uma das poltronas espalhadas.

–Você acreditaria se eu dissesse que não quero nada?

–Não. -Rebateu Hermione no mesmo momento.

–Então eu quero algo. -Disse Draco dando de ombros.

–E o que é?

–Eu não sei... o que você tem a me oferecer? - Perguntou de volta sem sequer olhar para a garota que batia o pé no chão ritmadamente em sinal de irritação. O loiro brincava displicentemente com os próprios dedos enquanto Hermione parecia ponderar sua resposta.

–Olha... eu lembro do que você me disse há um mês atrás e...

–Você não acreditou em nada, certo? A que conclusões chegou?

A castanha arregalou os olhos diante da resposta do rapaz, mas continuou.

–Eu realmente não entendi o que você quer. Eu não tenho nada a te oferecer. A não ser que uma azaração seja considerada “algo” nesse seu joguinho, estou de mãos abanando.

–Você lembra exatamente o que eu te disse naquela noite, Hermione?

A bruxa engoliu em seco ao ouvir seu nome ser pronunciado com tanto... carinho, da boca de Malfoy. Não pelo nome em si, e sim pelo fato de não soar totalmente errado com soaria há um mês atrás.

–Você disse que... –Ela pareceu incapaz de prosseguir.

–Que... ?

–Que me amava. -Falou Hermione. Parecia até que tinha sido obrigada a engolir um cubo de gelo.

–Exato.

–O que isso quis dizer?

–O que mais poderia querer dizer? –Perguntou Draco olhando sarcasticamente para a grifinória.

–Eu não...

O rapaz sentou-se em uma poltrona velha subitamente, como se houvesse perdido as forças nas pernas. Ele não conseguia entender ao certo o que estava fazendo, mas sentiu que pela primeira vez na vida estava fazendo a coisa certa. 

Havia decidido contar a verdade ao menos uma vez na vida e agora estava decidido: iria até o fim.

–Fique com o Weasley. Case com ele. 

–O que?

–Olhe Hermione, eu sei que sou um maldito egoísta de uma figa, mas dessa vez, só dessa vez, eu estou pensando em alguém além de mim. Se você realmente acha que o Weasley pode te fazer feliz, então esqueça tudo o que eu disse e fique com ele. 

Hermione ia falar algo mas o rapaz fez um gesto com a mão pedindo pra continuar. Ela assentiu pesadamente.

–Você sempre foi e sempre será livre. Fique com ele, ou com qualquer outro cara. Apenas seja feliz. Meu amor impossível por você não muda nada e eu sei disso. Eu só queria que soubesse que, você acreditando ou não, eu quero muito que você seja feliz. Se alguém merece essa história de feliz pra sempre, é você. Então faça o que tiver de fazer pra alcançar sua felicidade. Eu estou exausto de ver você perabulando por aí à sombra daquele idiota, você merece infinitamente mais que o tratamento que recebe dele Hermione, mas se ele te faz feliz, vá em frente. 

A garota engoliu em seco. Estava sem palavras. Nem em seus maiores devaneios ela imaginaria aquela cena. Não admitiria nem sob tortura, mas estava extremamente confusa. Ver Draco Malfoy ali em sua frente tão exposto, tão sincero... Ela sabia que ele falava a verdade. Era visível na expressão do bruxo. Ele a amava. Realmente a amava.

–Eu acabei com o Ron. Não pretendo voltar com ele... –Começou a garota usando o máximo de confiança possível. Quando viu o olhar enigmático de Malfoy, ela se apressou pra repetir: -Eu realmente não vou voltar pra ele.

-Você não me deve explicações, Hermione.

Ela andou de um lado para outro por uns minutos enquanto Draco assistia calado.

À beira das lágrimas, Hermione parou. Havia chegado a uma epifania, talvez a mais importante de sua vida. Encarou o loiro a sua frente e declarou:

– Isso está errado.

Draco assentiu em silêncio. Parou pra pensar por um minuto... Ele sabia que a moça tinha razão. Ele era a pessoa mais errada do universo para estar ao lado de Hermione Granger.

–Pegue o livro que quiser. Pode voltar aqui durante as madrugadas... Acho que aprendeu o caminho. -Disse o sonserino depois de um tempo encarando a garota que parecia estar muda. Ele começou a dar as costas para a sala quando ouviu um pequeno soluço.

"Quão diferente do Weasley eu seria se a deixasse aqui, com o coração quebrado e confusa?"

O mero pensamento irritou o rapaz. Ele deu uma volta e caminhou até ficar cara a cara com Hermione.

Por conta da diferença de altura entre os dois, e pelo fato de a moça estar de cabeça baixa, Draco levantou o rosto de Hermione lentamente até que estivessem se olhando nos olhos.

– Apesar de eu saber o que está errado, como posso ter tanta certeza se você nunca diz o que sente? -Perguntou ele. Não havia rastros de raiva ou frustração em sua voz, apesar de sentir seu coração contraindo ao estar tão perto da garota.

Hermione viu isso. Ela podia sntir a verdade até nos ossos.

–Eu... Eu não quero um band-aid. -Disse a garota engolindo o choro.

–O que é band-aid? -Perguntou Draco confuso.

A garota esboçou um sorriso, mas ao fitar os olhos confusos do rapaz à sua frente, logo voltou à sua expressão de dor.

–Eu não sei por onde começar... Você pode atar o dano, mas você nunca vai poder consertar um coração. Eu não te amo Draco.

Aquela frase pareceu um soco no estômago do loiro. Ele sentiu um aperto na garganta, mas não saiu de sua posição. Continuou a olhar Hermione nos olhos. Não podia esperar nada daquela loucura toda.

– Não tem como amar alguém que eu julgava odiar a um mês atrás... Eu não sei... Eu estou confusa. -Disse a jovem num sussurro. Lágrimas borravam sua visão, mas ela segurou-as o quanto pode.

–Está tudo bem. Não chore. -Disse Draco em um tom suave.

Hermione quis dizer que a pior coisa a se dizer a uma garota quando ela está prestes a chorar é "não chore" mas não conseguiu falar nada. Como esperado, ela começou a chorar. Silenciosamente as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da grifinória, que abaixou a cabeça.

–Eu já disse: Não precisa me amar de volta. Não se sinta pressionada. Eu não sou o homem certo pra você, sei disso. Não chore por causa disso. Está tudo bem. -Declarou Draco.

Ao ouvir aquelas palavras a garota se sentiu mais confusa e vulnerável do que nunca... Em um impulso Hermione abraçou o rapaz, que ficou sem reação no primeiro momento, mas assim que assimilou o que estava acontecendo, abraçou a moça de volta.

Ficaram abraçados na sala. Hermione chorou pelo que pareceu a eternidade para Draco, mas ele não falou nada.

–Desculpa. -Sussurrou ela depois de um tempo enxugando as próprias lágrimas.

–Não se desculpe. -Respondeu o bruxo secando uma lágrima solitária que caía pela bochecha corada de Hermione. -Obrigada por confiar em mim. Acrescentou.

Estavam desenlaçados, mas tão perto o quanto podiam sem estar se abraçando. Os rostos dos dois estavam a centímetros de distâcia... Se encaravam como se nunca tivessem se visto antes.

Draco sabia exatamente o que aconteceria em seguida se não tivesse forças para se afastar. E não tinha.

Para surpresa do sonserino, a distância foi vencida por Hermione. Foi um beijo -até certo ponto- casto... Entretanto nenhum dos dois negaria que foi o melhor de todas suas vidas. Separaram-se arfando por ar. Hermione com lágrimas novas prontas pra serem derramadas. Draco com os olhos acinzentados em tempestade.

–Isso nunca vai dar certo. -Disse ela.

–Eu sei. -Respondeu o rapaz.

Mas nenhum dos dois fez o mínimo esforço pra se afastar. 

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