All about us #3

 



–Como assim já vai dormir? Não são nem nove horas ainda!

Hermione suspirou. Ela já estava sabendo da escapada de Rony com Lilá.

“De novo.” Pensou a garota.

O ruivo levantou-se num rompante do sofá onde antes estiveram juntos na sala precisa. Ele havia chegado 20 minutos atrasado, e havia encontrado Hermione lendo no sofá verde. A sala estava diferente do que estavam acostumados. Ao invés dos tons de vemelho, dourado e vinho que sempre tinha quando Ron a conjurava, a sala encontrava-se repleta de livros e tinhas cores que variavam e pareciam pertencer a uma paleta de outono. 

–Procure outra pessoa para te fazer companhia Ronald, estou cansada. Quero dormir cedo hoje. 

–Que quer dizer com isso?

–O que você acha que eu quis dizer? –Rebateu Hermione. Apesar de estar triste a garota não havia perdido sua petulância.

–Você anda estranha há semanas, não faço ideia do que quer dizer, mas se for pra continuar me rejeitando assim, é melhor dizer logo!

–Eu te rejeitando?! Você me trai desde o começo deste maldito namoro e quer que eu faça o que?! Me diga Ronald! Tudo o que você faz é errado! Você só me magoa o tempo todo!

–Trair... do que você...

–Ah Ron, não me venha com essa! A escola inteira sabe que você vive se agarrando com a Lilá! Você acha mesmo que eu sou idiota?!

Rony ia responder alguma coisa, mas Hermione não o deixou falar. Respondeu a própria pergunta. As lágrimas já ameaçavam transbordar de seus olhos...

–Eu devo ser mesmo muito idiota, né? O que eu ainda estou fazendo? A quem eu quero enganar? Eu não aguento mais isso. Esse namoro, você, tudo! Eu estou farta de bancar a idiota o tempo todo!

–O que você quer dizer com isso? –Perguntou Rony em um tom estranhamente sério.

–Que acabou! –Explodiu Hermione jogando os braços pra cima. Estava chorando a essa altura.

–Você está alterada, não sabe o que está dizendo. Eu nunca te traí com ninguém, eu...

–CALA A BOCA RONALD!

O ruivo, que até então encarava tudo com uma calma surpreendente estreitou os olhos ao ver a garota gritar.

–Não grite comigo. –Disse ele fechando as mãos em punhos, sinal de que estava começando a ficar com raiva.

–Não grite comigo? –Hermione esboçou um sorriso. Estava vermelha de raiva. A calma com a qual Rony estava lidando com tudo a deixara mais nervosa ainda. Tentar mentir pra ela então, a deixou furiosa e agora essa de... -NÃO GRITE COMIGO?! VOCÊ MERECE MUITO MAIS QUE GRITOS! EU NÃO TE AGUENTO MAIS RON! ACABOU, ENTENDEU?! ACABOU!

O ruivo adquiriu a tonalidade dos cabelos no rosto, mas se manteve “calmo”.

–Não acabou coisa nenhuma. Você está alterada por algum motivo, mas tudo bem... mais tarde conversamos. Boa noite. –Disse ele dando as costas a Hermione e se preparando pra sair da sala.

A bruxa a este ponto já estava tendo um colapso nervoso. Não conseguiu falar mais nada, apenas se deixou cair de volta no sofá e desatou a chorar. Ron sentiu vontade de voltar e dizer algo para a garota, mas saiu da sala, deixando Hermione sozinha ao prantos. Ela ia voltar ao normal, ela sempre voltava.

Draco Malfoy estava irritado, cansado e simplesmente entediado. Detestava fazer rondas estúpidas no castelo durante aquele horário. Era monitor sim, mas, e daí? O que diabos podia acontecer no sétimo andar? Lá só havia a sala precisa e... Ronald Weasley?

“Que diabos ele está fazendo aqui? As rondas dele são antes das minhas e essa nem é a parte dele do castelo” Pensou o sonserino ao ver o bruxo grifinório passar tempestuosamente por ele. Sequer deu atenção para o fato de trombar com Draco Malfoy num corredor vazio. A chance perfeita para uma discussão, ou quem sabe um duelo. Ronald Weasley não perderia essa oportunidade. Algo estava errado.

“Granger” –Foi a primeira coisa que veio à cabeça do loiro.

–Chorando de novo, Granger? –Disse o rapaz em um tom que deveria ser de escárnio, mas que no momento só transmitia preocupação. Havia entrado na sala precisa assim que suas rondas acabaram.

Hermione ergueu a cabeça, que antes estivera apoiada nos joelhos e fitou o jovem loiro que a observava de longe. Por algum motivo a presença dele não a incomodou como deveria. Ela não falou nada, apenas o encarou por alguns segundos com os olhos  inchados e vermelhos e voltou a deitar a cabeça nos joelhos que abraçava à sua frente.

–O que aconteceu? –Perguntou Malfoy com a voz baixa.

–Nada demais. –Respondeu Hermione com a cabeça ainda abaixada. Sua voz falhou em todos os lugares errados, revelando que ela ainda estava chorando por dentro.

–“Nada demais” agora é o apelido do Weasley? –Indagou Draco, sentando-se em uma poltrona que ficava relativamente perto do sofá onde Hermione estava encolhida.

A grifinória suspirou pesadamente, reprimindo um soluço antes de falar com a voz chorosa:

–Sai daqui Malfoy. Por favor.

Não havia petulância naquele pedido. Nem a velha implicância de sempre. Apenas dor. Dor essa que não passou despercebida ao rapaz.

–Eu não sou o Weasley, Granger. Não é da minha natureza deixar uma garota chorando sozinha.

–Não é da sua natureza falar com sangue-ruins. –Rebateu Hermione com a voz abafada.

–Você nunca vai esquecer, não é? – Perguntou Draco, dividido entre felicidade, por ver a velha implicância da garota; e raiva, por nunca poder se livrar do rastro de destruição de suas atitudes impensadas.

Hermione mais uma vez ergueu os olhos para observar o loiro.

–Quem é você e o que diabos fez com Draco Malfoy?

O sonserino se permitiu soltar uma risada rouca. A velha Hermione estava de volta.

–Bem. Acho que eu devia me apresentar novamente. Acho que não me conhece ainda, não de verdade. –Disse Draco se levantando e se colocando em frente a garota que ainda estava encolhida no sofá. Ele se apoiou em um só joelho e sorrindo de uma forma não-tão-irônica-assim falou:

–Você talvez me conheça como um ex-grande amor que durou pouco tempo. Pessimista, realista, chato e arrogante. Sonserino, 16 anos. Puro-sangue e ex-alienado por essas coisas... –Disse o rapaz fazendo um gesto displicente com as mãos como quem diz que aquilo não é nada. - Prazer, Draco Black Malfoy. Completou estendendo a mão para Hermione apertar.

A garota o encarou por alguns segundos e sentiu um leve bater de asas dentro do estômago. “Que diabos...?”

–Sabe Granger, agora era o momento em que você estendia a mão e dizia seu nome pra mim. –Falou o loiro em um tom confidencial. Hermione riu.

Porque ela fez aquilo? Não o sabia, mas não se importou muito no momento.

–Hermione Jane Granger, prazer em conhecê-lo. –Falou enxugando o rosto com as costas de uma mão enquanto estendia a outra para o sonserino.

Draco apertou gentilmente a mão de Hermione. Se encararam pelo que pareceram séculos, até que o rapaz foi tomado por uma súbita urgência.

– Porque não sai um pouco daqui? Que tal um passeio noturno? –Disse o jovem num ímpeto de ousadia.

–Que? –Indagou a castanha arregalando os olhos.

–Ninguém vai nos ver, eu prometo. Vamos, levante-se.

Draco já estava de pé trazendo Hermione junto consigo. A garota se sentiu meio louca por estar fazendo aquilo, mas algo a dizia para simplesmente não pensar naquele momento.

–Para onde...? –Quis saber a grifinória desamassando a saia e a blusa. Ainda estava com a voz meio estranha por causa do choro, mas sequer se lembrava das lágrimas que a pouco derramara.

–Você irá ver. –Disse Draco estendendo o braço para a garota.

Ela hesitou um pouco antes de pensar “que se dane” e aceitar a gentileza do sonserino.

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